quarta-feira, 29 de setembro de 2010 | By: Ócios do Ofício

Sons


Gritos e alarmes e sirenes e barulhos. Nessa contingência absurda de vozes, nos unimos a tantos outros falantes baderneiros e falsos idealistas, componentes desta sociedade surda, tão boa em falar, mas tão débil em escutar. Num mundo em que informação é tudo, nunca soubemos tão pouco sobre nós mesmos e sobre os outros. Refiro-me a algo que vai além das roupas, das modas, dos estilos, enfim algo que não pode ser lido em revistas ou dito por e-mail. Está em olhares, em dizeres, em um “bom dia” dito atravessado ou em um sorriso amarelo. São palavras ditas no silêncio de um abraço ou no calor de uma gargalhada.
Dormimos com celulares, temos computadores, vivemos bombardeados de novidades sobre tudo por todos os lados. Então, o que há de errado? Por que insistimos nesta solidão coletiva, nesta distância segura que machuca, neste mar de pessoas que, juntas, preferem viver sozinhas? A verdade é que temos medo. Medo de sermos nós, de não sermos aceitos e por isso não aceitamos os outros. Não nos mostramos e não vemos, falamos sobre o que não somos e escutamos as mentiras dos outros. Não atravessamos a linha do conhecimento próprio porque isso implica em encontrar fragilidades.  Esquecemos que a fraqueza não é condição do fraco, é a condição do humano. E nós não somos deuses.
Somos vítimas todos os dias desta linha, deste barulho surdo, deste tratado assumido por todos e por ninguém assinado. Convivemos conformados com a idéia de que não somos ouvidos e não devemos ouvir, nossos problemas são nossos, os deles são deles e assim seguimos. Todos de mãos dadas, mas em direções opostas, sem sair do lugar. Sem perceber, estamos sós.
Abraços e sorrisos e carinhos e verdades. Estou cansado deste isolamento, quero saber dos outros, deixar de ser surdo. Quero parar de viver numa ilha com receio de mim. Quero ajudar e ser ajudado. Uma mão só lava a outra se as duas saírem do bolso. Quero mostrar, enfim, que maior que a liberdade de ter falado é o privilégio de ter sido ouvido.





Por Rafael Rogério Santos

3 comentários:

Maira disse...

*-------------------* ótimo texto. my congratulations (:

Danilo Gonçalves disse...

Post interessante. Parabéns pelo texto, continue assim.
Se em outro momento quiseres desenvolver mais a linha que fala sobre o "sistema, assista o filme "Clube da luta".

Danilo Gonçalves. (sou do NCJ)
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Simere disse...

Parabéns Primo!
Incrível o texto.

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